sábado, 1 de maio de 2010

Arsene no país das maravilhas

Com dinheiro para finalmente montar equipe dos sonhos, Wenger não pode esquecer da base


O final da temporada 2009/10 marcará também o fim de uma era no Emirates Stadium. Não, o Arsenal não conquistou nenhum título (permanece assim desde 2005, quando levantou a FA Cup), e Arsene Wenger não saiu do clube – ainda. Ironicamente, é exatamente agora, com o contrato do treinador chegando ao fim (quando completar 61 anos, em outubro, restarão menos de doze meses para o término do vínculo), que os Gunners terão finalmente dinheiro em caixa para trazer os jogadores de peso que faltaram nos últimos anos sob o comando do francês. A questão que ronda Holloway, então, é como e em quem investir: se nos jovens em ascensão de quem Wenger tanto gosta ou se em outros nomes, vislumbrando uma mudança de mentalidade no clube com a troca de chefia.

Mesmo que não renove seu contrato – ele já afirmou que só fala a respeito após a Copa do Mundo, e vozes importantes dentro do Emirates relatam um semblante cansado após outra temporada sem títulos –, Wenger dificilmente deixará o Arsenal. Isto porque, como todos sabem, ele é bem mais que apenas o técnico. “Ele não trabalha apenas com o time, mas molda o clube. Suas responsabilidades vao além do campo de jogo, e ele de fato controla tudo”, declarou recentemente Andrey Arshavin, numa mostra de apoio que vai além das palavras.

O russo já afirmou que sua permanência em Londres depende também da permanência de Wenger. “Gostaríamos de saber que Arsene Wenger continuará no Arsenal para a próxima temporada. O mais importante aqui nao é Arshavin, Fabregas ou Van Persie. O que acontece com eles depende de Wenger, já que o clube é ele”, afirmou Dennis Lachter, empresário de Arshavin, numa tentativa de minimizar a polêmica criada após declaração do atacante sobre o sonho de defender o Barcelona. “Se jogasse apenas um ano em Barcelona, seria o ápice da minha carreira”, teria dito o atleta segundo o jornal The Daily Mail.

Enquanto lida com a relação dicotômica de Arshavin com o clube, Wenger recebeu o sinal verde da diretoria: após temporadas e mais temporadas de vacas magras, terá cerca de 45 milhões de libras esterlinas para gastar no mercado de transferências, fruto principalmente do aumento de receitas com o Emirates Stadium, severos ajustes financeiros administrativos e a venda das luxuosas casas construídas no terreno do antigo Highbury.

A pressa para contratar é grande: a intenção do treinador é acertar as negociações ainda antes da Copa do Mundo, para planejar a temporada com mais tranquilidade e evitar gastos extras com possíveis valorizações de jogadores que se saírem bem na África do Sul. A expectativa é que dois ou três nomes de impacto cheguem a Londres. Mas e como serão essas contratações? A tão falada base vai, afinal, ter sua participação diminuída ainda mais?

Dando sinais de que sua filosofia não mudará, o único alvo já revelado é o marroquinho Marouane Chamakh, cujo contrato com o Bordeux se encerra ao final da temporada, vindo assim sem a necessidade de pagamento de multas rescisórias. Caso a negociação se concretize, será mais uma opção para o já lotado setor vermelho, por mais que as contusões assombrem o ataque.

O problema, entretanto, não é o ataque, mas sim a defesa – e Wenger creditou a ela a fracasso na luta pelo título. De fato, um setor defensivo que sofra mais de quarenta gols em uma temporada não consegue ser campeão na Inglaterra, e a derrota para o Tottenham evidenciou as fraquezas da retaguarda dos Gunners. Com dinheiro em caixa, o primeiro nomes a surgir é de Philippe Mexes, que pouco jogou na surpreendente arrancada da Roma (17 partidas, ficando na reserva de Burdisso e Juan). O francês de 28 anos custaria cerca de dez milhões de libras aos cofres do Arsenal, valor alto se analisarmos sua idade e posição – por Arshavin, então com 27 anos, foram 17 milhões. Cansado das falhas de Almunia e Fabianski, Wenger também estaria próximo de tirar outro compatriota, Sebastien Frey, da Fiorentina – outros dez milhões seriam investidos no goleiro de 30 anos.

Apostar em um arqueiro experiente é compreensível, por mais que Frey não consiga brigar com os instáveis Lloris e Mandanda pela camisa um da França na Copa do Mundo. Entretanto, para quem apostou e recebeu tão bom retorno como fez com Vermaelen, o Arsenal pecará por omissão se não abrir espaço para mais garotos vindo de seu time reserva. O polonês Wojciech Szczesny, apresentado recentemente em nosso Fique de Olho, é exemplo claro disso. Craig Eastmond, campeão da FA Youth Cup com os Gunners em 2009 e no clube desde os 11 anos, pede uma oportunidade.

“É claro que experiência é importante, especialmente quando alguém está lá para mostrar o caminho aos garotos, mas acredito que tenhamos jovens de muita qualidade que podem sim se firmar. Basta dar uma oportunidade”, declarou o espirituoso volante de 1,80m que pode atuar também na lateral direita. Para ele, meninos como Conor Henderson, Emmanuel Frimpong, Jay Emmanuel-Thomas, Sanchez Watt e Jack Wilshere podem levar o clube de volta ao caminho das vitórias, graças também à experiência que adquiriram em outros clubes, durante os empréstimos desta temporada. A prova disso é que Eastmond mesmo, um dos poucos a permanecer no elenco, se saiu muito bem, mesmo tendo de jogar improvisado na zaga.

Enquanto isso, Wenger mira outras estrelas ascendentes, como o comentadíssimo meiocampista Jack Rodwell, do Everton, que também pode atuar na zaga. Com dúvidas pairando sobre o futuro de Gallas, Silvestre e Sol Campbell, Rodwell pode chegar já para ser titular, ainda que tenha apenas 19 anos recém-completados. Não que isso seja problema para um garoto que estreou no sub 18 aos 14 e, um ano depois, já fazia parte dos reservas. Além dele, o uruguaio Abel Hernandez também faz parte da lista de desejos do técnico. Contudo, recém-chegado ao Palermo, la Joya já afirmou que não há interesse em deixar a Sicília neste momento – seu contrato vai até 2013.

Após anos de lamentações e desculpas, esta será a primeira temporada de Wenger com dinheiro no caixa para gastar. Se as expectativas serão maiores, as cobranças também – afinal, muito se disse sobre o potencial que sua equipe teria caso tivesse condições de contratar os jogadores que gostaria. Entretanto, gastar de maneira desregrada e fechar neste momento os olhos para a base, que sempre o socorreu, podem fazer com que o último ano do atual contrato do treinador seja, de fato, o último.

Um comentário:

Jogo Aberto disse...

Ele é um grande tecnico.